Ela foi luz por onde passou. Tinha um magnetismo que não se explicava, só se sentia. Quem conviveu com Preta, mesmo que por pouco tempo, sabia que havia algo nela que tocava fundo — uma força suave, um jeito de viver com intensidade e amor. E foi exatamente assim que ela partiu: cercada de carinho, sem dor, envolta por uma rede de afeto que permaneceu firme até o último instante.

Nos últimos dias, a saúde de Preta se deteriorou rapidamente. O que parecia uma fase mais fraca do tratamento se transformou em um estado delicado e irreversível. Ainda assim, ela não ficou sozinha nem por um segundo. Família, amigos, pessoas que a amavam profundamente estavam ali, dia e noite, garantindo que ela se sentisse acolhida, respeitada e, acima de tudo, amada.

Durante quatro dias, ela recebeu carinho constante. Toques suaves nos cabelos, palavras de amor sussurradas ao pé do ouvido, promessas de que sua neta Sol, seu Francisco, sua Flora, todos estariam bem. Foram momentos de entrega total — uma despedida silenciosa, mas repleta de significado. Não houve pressa, não houve desespero. Apenas amor, em sua forma mais pura.

“Ela não sentiu dor. Ela estava cercada de muito amor, muito mesmo”, disse uma das pessoas próximas. E não foi só um amor familiar. Preta tinha uma família de amigos tão forte quanto a de sangue. Gente que se recusou a se afastar, que largou tudo para estar presente. Ninguém deixou que ela se sentisse abandonada — algo que, infelizmente, muitas pessoas enfrentam em situações semelhantes.

Essa presença constante fez toda a diferença. Preta já havia enfrentado abandono no passado. Um ex-marido que virou as costas quando ela mais precisou. Uma dor que marcou, que sangrou. Mas o fim da sua história foi outro. Foi leve, foi acompanhado, foi digno. Teve colo, teve voz, teve presença. Um contraste marcante com tantas histórias silenciosas e solitárias.

Preta irradiava afeto, mesmo em seus dias mais difíceis. Havia nela uma generosidade emocional rara — o tipo de pessoa que faz você se sentir importante só por estar ali. Ela criava laços, não por conveniência, mas por desejo genuíno de se conectar. E esse mesmo laço foi devolvido nos seus últimos dias, quando a vida já dava sinais de que estava chegando ao fim.

Não foram apenas os filhos e netos que a amaram até o último suspiro. Foi uma rede inteira de gente que ela cativou ao longo da vida. Gente que chorou em silêncio enquanto fazia carinho em suas mãos. Que segurou sua fragilidade sem deixá-la sentir medo. Que repetia, vez após vez: “Você não está sozinha.”

É difícil falar de morte sem pesar. Mas há mortes que, embora doam, carregam em si uma beleza rara. A de Preta foi assim. Ela não partiu em solidão. Partiu com a certeza de que viveu amada, e de que construiu ao seu redor uma muralha de afeto capaz de resistir ao tempo, à distância e até mesmo à ausência.

Esse é o legado de Preta. Um legado que não se mede em feitos públicos, mas em gestos diários. No amor que cultivou, nas amizades que manteve, na coragem de seguir mesmo após tantas dores. Ela ensinou, até o último dia, que amar vale a pena — e que ninguém deve enfrentar a partida sozinho.

Se hoje a ausência dela dói, é porque sua presença foi forte demais para passar despercebida. E talvez essa seja a maior homenagem que alguém pode receber: ser lembrada não pela forma como partiu, mas pelo quanto fez sentir enquanto esteve aqui.