Isabela nunca imaginou que um simples envelope pudesse mudar sua vida. Trabalhava com a avó em um pequeno ateliê de flores, fazendo buquês de casamento para noivas que viviam sonhos distantes do seu mundo. A vida era simples, os dias corridos, mas havia ternura em cada gesto seu. Um dia, entre laços e pétalas, chegou um convite de casamento endereçado a ela.

“Deve ter sido engano”, pensou. Mas o nome estava certo, e a avó, com sua sabedoria silenciosa, insistiu:
— Vai, minha filha. Às vezes, Deus manda convites estranhos pro destino certo.

Isabela foi. Vestido florido, sandália simples e o coração acelerado. Chegou à igreja e logo percebeu que não pertencia àquele cenário de luxo. Os olhares eram curiosos, quase hostis. Ainda assim, ninguém a impediu de entrar. Sentou-se no último banco, tentando entender o motivo de estar ali.

Mas, então, algo inusitado aconteceu.

A noiva não apareceu.

O altar montado, os músicos inquietos, o celebrante impaciente… e o noivo, um homem alto, elegante, com expressão de dor estampada no rosto. Lorenzo Vilar, milionário e dono de uma rede de hotéis, cochichou algo com um segurança. Apontaram para Isabela.

Antes que pudesse reagir, foi chamada até o altar.

— Você é Isabela Duarte? — ele perguntou.

— Sou… — respondeu, assustada.

— Preciso que você finja ser minha noiva. Só por hoje. É um contrato. Você será bem paga.

Ela congelou. A situação era absurda. Mas o olhar dele não era arrogante. Era sincero. Era desespero puro. O pai de Lorenzo, internado em estado grave, queria ver o casamento do filho antes de partir. A noiva verdadeira havia fugido com o fotógrafo pouco antes da cerimônia.

Isabela aceitou.

E naquele altar, entre alianças simbólicas e um beijo casto na testa, a mentira se transformou em milagre. A cerimônia aconteceu. O pai de Lorenzo sorriu, emocionado. E algo dentro dos dois começou a mudar.

Nos dias seguintes, Isabela foi levada a um spa, recebeu roupas novas, um motorista à disposição e um contrato de sigilo. Era tudo surreal. Mas o mais surpreendente foi que Lorenzo começou a aparecer. No café da manhã. No jardim. No banco de madeira onde ela lia para espantar a ansiedade.

Ele escutava. E ela falava com a alma.

Sem maquiagem, sem armadura. Falava da infância simples, das flores que vendia com a avó, do medo de sonhar alto demais. Lorenzo sorria como nunca. Como alguém que havia esquecido como era viver de verdade.

Mas a felicidade não durou muito.

Um jornalista descobriu a verdade. Publicou fotos, expôs o “acordo”. Chamaram Isabela de farsa, interesseira, atriz de aluguel. Ela se escondeu. Voltou para casa com a avó, envergonhada, querendo desaparecer.

Mas Lorenzo foi atrás.

— Você ainda acha que isso foi só um contrato? — disse ele, diante da casa humilde.

— Você é um milionário. Eu sou só uma florista.

— Você é a mulher que eu quero ver ao meu lado. No altar. De verdade.

Na semana seguinte, Lorenzo convocou a imprensa.

— Sim, ela entrou por engano. Mas foi o melhor erro da minha vida.

O mundo viu um homem poderoso se declarar com humildade. Viu uma mulher comum ser tratada como única. E a história improvável virou inesquecível.

Hoje, todo dia 14 de fevereiro, Isabela encontra um buquê na porta. Dentro, um bilhete com a caligrafia dele:

“Obrigado por ter aceitado aquele convite errado.”

Porque o amor verdadeiro, às vezes, chega com o nome certo no envelope errado.